2020 não deve ser o ano da renda
fixa, mas traz algumas oportunidades; saiba onde investir
Com juros baixos e estáveis, o mar não está para
peixe para títulos públicos e privados de renda fixa neste ano; mesmo assim,
pesquei algumas oportunidades para você
Com os juros brasileiros no seu menor patamar
histórico, o ano de 2020 promete ser de água parada para o Tesouro
Direto e outros ativos de renda fixa. Em outras palavras, o mar não
vai estar para peixe para quem investe em títulos públicos e privados. Mas eu
pesquei algumas oportunidades e as reuni na matéria a seguir, que faz parte da
nossa série sobre Onde Investir em 2020.
Brilho de 2019 não deve se repetir em 2020
Assim como o ano passado, 2020 deve ser um ano mais
propício para os ativos de risco - como você já deve saber, caso tenha
conferido a matéria do Victor Aguiar sobre as perspectivas para a bolsa
neste ano.
Porém, diferentemente do que ocorreu em 2019, 2020
não deve ser um ano tão brilhante assim para aquela renda fixa menos
conservadora, cujas taxas de remuneração são prefixadas ou atreladas à
inflação.
No ano passado, estes papéis se valorizaram
bastante, impulsionados por um forte movimento de quedas nos juros futuros,
tanto de curto como de longo prazo. Elas foram seguidos de cortes na taxa básica
de juros, a Selic, que terminou o ano em 4,5%, sua mínima histórica.
No caso dos investimentos com taxas atreladas aos
juros, que pagam um percentual do CDI ou da Selic, o ano foi de retornos
minguados. Afinal, os juros básicos já estavam baixos no início do ano e caíram
ainda mais.
Só que para os papéis prefixados e atrelados à
inflação, que se valorizam quando os juros caem, 2019 foi um excelente ano. Os
títulos públicos de longo prazo atrelados à inflação ficaram em quarto
lugar no ranking dos melhores investimentos do ano.
Este ano, porém, não reserva tantas emoções
positivas para a renda fixa. A perspectiva do mercado é de que:
1) os juros futuros de curto prazo não devem
cair muito mais, já que o Banco Central só deve fazer mais um ou, no máximo,
dois cortes na taxa Selic, se é que vai fazer algum corte;
2) os juros futuros de longo prazo até podem cair mais alguma coisa, mas também nada estrondoso; e
3) os juros também não devem subir, dado que a inflação continua baixa e controlada. Caso os preços comecem a ser pressionados por uma esperada retomada econômica, no máximo ensejarão um pequeno ajuste da Selic para cima, mas também nada de mais.
2) os juros futuros de longo prazo até podem cair mais alguma coisa, mas também nada estrondoso; e
3) os juros também não devem subir, dado que a inflação continua baixa e controlada. Caso os preços comecem a ser pressionados por uma esperada retomada econômica, no máximo ensejarão um pequeno ajuste da Selic para cima, mas também nada de mais.
Temos aí, portanto, um cenário de juro meio parado.
Talvez um pouquinho mais para baixo ou para cima, mas sem uma forte tendência
para nenhum dos lados. E na renda fixa, a gente ganha dinheiro mesmo quando os
juros estão altos, estão subindo ou estão caindo.
Ou seja, o estado atual não é lá muito propício. “A
renda fixa só vai ser a melhor classe de ativos se tudo der errado”, diz
Ulisses Nehmi, sócio da Sparta Investimentos, gestora especializada em renda
fixa.
Apesar do cenário difícil para a renda fixa, ela
ainda é uma classe de ativos fundamental na carteira do investidor, tanto para
a reserva de emergência quanto para protegê-lo da inflação e de eventuais
oscilações mais fortes em mercados de risco, como o de ações.
Vejamos quais as melhores pedidas para o ano:
Onde investir em 2020: Títulos públicos
Reserva de
emergência
Ainda que não esteja pagando quase nada, a renda
fixa conservadora e pós-fixada ainda é o lugar certo para você alocar a sua
reserva de emergência.
Esses ativos têm alta liquidez (facilidade de venda
ou resgate a qualquer momento), baixo risco de crédito e baixa volatilidade de
preços, preservando o seu capital e deixando-o disponível para qualquer
eventualidade.
Mas em vez de deixar o dinheiro na caderneta de
poupança, que tem hoje o pior rendimento da renda fixa, opte por um fundo
Tesouro Selic de taxa zero ou pela compra direta de Tesouro Selic (LFT) no
Tesouro Direto, desde que a corretora não cobre taxa de agente de custódia para
esse tipo de operação.
O Tesouro Selic é o ativo mais seguro da nossa
economia. Trata-se de um título público, com liquidez diária, emitido pelo
governo federal, e que paga a variação da taxa Selic. Rende mais do que a
poupança e é mais seguro que um CDB. Eu falo mais sobre as vantagens desse
investimento e dos fundos Tesouro Selic sem taxa nesta outra matéria.
A questão aqui é: em um cenário de juro baixo e que
deve continuar baixo, como o esperado para este ano, esses investimentos
ultraconservadores, que só rendem 100% do CDI/Selic ou menos, só servem mesmo
para reserva de emergência ou para manter dinheiro em caixa para aproveitar
boas oportunidades de investimento que possam surgir.
Nesse perfil, também há outros ativos
interessantes, como os CDBs de bancos médios e as contas de pagamento como a
NuConta, que pagam 100% do CDI com liquidez diária.
Tesouro
Direto: a tal da B 50
Se você já tinha títulos prefixados ou atrelados à
inflação comprados a taxas altas e eles já se valorizaram bastante no último
ano, você já pode vendê-los para realizar os ganhos e usar o dinheiro para
apostar em ativos com mais potencial.
Levá-los ao vencimento com essas taxas altas também
pode ser interessante - por exemplo, no caso de quem está investindo para a
aposentadoria ou prefere ganhar uma renda periódica com o pagamento de cupons
semestrais.
Mas não pense que esses papéis devem se valorizar
muito mais neste ano. Na verdade, eles podem até se desvalorizar. O grosso da
queda dos juros futuros no curto e no médio prazos já passou, e altas pontuais
não podem ser descartadas. A verdade é que o risco de devolver os ganhos
recentes está maior do que o de ganhar mais.
A exceção é o Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais
2050 (NTN-B), apelidado de B 50. Ainda que você não pretenda sentar em cima
desse papel por 30 anos, esse título ainda tem uma boa chance de valorização em
2020 com uma queda adicional nos juros futuros de longo prazo.
O motivo é que o risco-país - fator que mais pesa
sobre os juros longos - pode reduzir ainda mais com a retomada esperada para a
economia brasileira neste ano e o avanço de novas reformas importantes para o
nosso equilíbrio fiscal.
“Há uma
possibilidade não desprezível de um recuo extra nos juros longos, dado que
estamos num mundo de juro real negativo [juro menor que a inflação]. O Brasil
teve uma melhora substancial no quadro fiscal, está entrando em um ciclo de
recuperação de crescimento e nossas contas externas estão saudáveis. Tudo isso
aponta na direção de juros reais de longo prazo ainda mais baixos que os
atuais”, explica Dan Kawa, sócio da TAG Investimentos.
Essa é a mesma visão de Felipe Sichel,
estrategista-chefe do banco Modalmais. “Se compararmos a B 50 com títulos
similares em outros países emergentes, como México, África do Sul e Turquia,
veremos que ainda há prêmio para ser extraído por aqui”, diz.
O risco, evidentemente, é tudo isso dar errado: a
economia não andar como o esperado ou a parte política emperrar. Daí a aposta.
De todo modo, se tudo der certo, é bom lembrar que a valorização do papel
também não deve ser assim tão estrondosa.
Ou seja, quem tem B 50 na carteira pode manter, e
quem não tem, pode até comprar um pouco.
Onde
investir em 2020: Renda fixa privada
Os investimentos de renda fixa privada são aqueles
títulos de dívida emitidos por empresas, bancos e securitizadoras para captar
recursos junto a investidores a fim de investir na economia real.
Ainda que as remunerações desses papéis não estejam
tão altas nesse cenário de juro baixo, a perspectiva de crescimento econômico é
um incentivo para novas emissões, já que as empresas podem precisar captar
recursos para investir nas suas atividades. O juro baixo também é um incentivo
para elas quererem se financiar no mercado local.
Além disso, como o governo vem reduzindo sua
participação na economia e na concessão de empréstimos via BNDES, as companhias
têm precisado recorrer ao mercado de capitais.
Segundo os especialistas com quem eu conversei, as
maiores oportunidades de 2020 estarão nos mercados de debêntures e no de
crédito privado high yield, títulos de dívida sem grau de investimento.
A melhor forma de investir nesses tipos de ativos é
por meio de fundos de investimento de gestoras especialistas nesse tipo de
investimento. É possível encontrá-los, por exemplo, em plataformas de
investimento on-line de corretoras e distribuidoras de valores mobiliários.
Debêntures
incentivadas
O mercado de crédito privado passou por uma forte
correção de preços no segundo semestre do ano passado, o que impactou
negativamente os preços das cotas dos fundos com resgate no curto prazo.
Mas essa reprecificação abriu uma série de
oportunidades nesse mercado para aqueles gestores que focam em ganhar com a
valorização desses títulos. Para Ulisses Nehmi, da Sparta, as maiores
distorções de preços hoje, estão no mercado de debêntures
incentivadas. Ele inclusive já falou sobre isso ao repórter Vinícius
Pinheiro.
As debêntures incentivadas são títulos emitidos por
empresas para investir em projetos de infraestrutura, área em que o Brasil
ainda tem grandes gargalos. Elas são isentas de imposto de renda para a pessoa
física, assim como os fundos que investem nelas.
Crédito
high yield
Já para Dan Kawa, da TAG Investimentos, as melhores
oportunidades estão no crédito high yield. Como esses títulos de dívida são
mais arriscados, seus retornos também costumam ser maiores. Existem fundos
especializados nesse tipo de papel, normalmente classificados como fundos de
crédito privado (CP).
“Os fundos que investem em papéis com grau de
investimento têm pago de 105% a 110% do CDI. Eles têm mais liquidez e até fazem
sentido no portfólio. Mas como estamos ainda no estágio inicial do ciclo
econômico, com inflação e juros ainda baixos e começo do crescimento,
acreditamos que é uma fase boa para o crédito high yield”, explica.
Como esses títulos têm menos liquidez, os fundos
também costumam ter resgate mais demorado, superior a 30 dias entre o pedido de
resgate e o efetivo pagamento do investidor. O cotista abre mão da liquidez
para ganhar mais.
“Temos visto fundos que pagam CDI mais uma taxa
prefixada que varia de 3% a 5%, por exemplo”, diz.
Onde investir em 2020 para se proteger da inflação
Pode parecer cedo para pensar nisso, mas agora é justamente
o momento ideal para montar posições de proteção. “A renda fixa é o
guarda-chuva que a gente tem que montar quando tudo ainda está barato”, compara
Ulisses Nehmi.
Embora a previsão seja de que a inflação permaneça
baixa e controlada em 2020 - a projeção do último Boletim Focus é de IPCA em
3,61% no fim do ano, ainda inferior à meta de 4% - especialistas não descartam
a possibilidade de os preços sofrerem pressão por conta de uma esperada
retomada no crescimento do PIB para este ano. No mesmo Focus, a projeção de
crescimento econômico em 2020 é de 2,30%.
Caso a pressão inflacionária se saia maior que o
esperado, o Banco Central pode não efetuar novos cortes na Selic ou até mesmo
fazer um pequeno ajuste para cima.
Como esse cenário possivelmente desvalorizaria os
títulos atrelados à inflação, Nehmi não considera que estes ativos sejam os
ideais para proteger o investidor contra a inflação neste momento, já que ela
pode vir acompanhada de uma alta dos juros.
“Na renda fixa, os pós-fixados são mais indicados,
pois não têm o problema da marcação a mercado”, diz o sócio da Sparta. Ele
ainda sugere que o investidor pode ter posições em fundos imobiliários cujos
rendimentos sejam corrigidos pela inflação.
Além disso, nada impede que acontecimentos que
fogem ao controle dos brasileiros venham a impactar inflação e juros por aqui.
Na primeira semana do ano, o mundo já ficou de cabelo em pé com a escalada
das tensões entre Estados Unidos e Irã.
Caso o conflito se prolongue ou piore, ele pode vir
a pressionar os preços do petróleo de maneira um pouco mais permanente. Nesse
caso, poderia haver uma alta de combustíveis por aqui, com consequente pressão
sobre o IPCA e as taxas de juros.
Impactos pontuais, como a alta recente dos preços
das carnes, também não podem ser descartados. Fora que, neste ano, temos um
fator de risco importante lá fora: as eleições americanas.
Dentro do universo dos pós-fixados, porém, o
investidor não precisa ficar restrito ao Tesouro Selic. Para proteção contra a
inflação, você pode investir em CDBs, LCIs e LCAs de bancos médios, bem como
Letras de Câmbio (LC) de financeiras, que normalmente pagam mais do que 100% do
CDI.
Nesse caso, você terá que abrir mão da liquidez
diária, mas tudo bem, porque esta não será a sua reserva de emergência. Em
geral, esses ativos só têm liquidez no vencimento. As LCIs e LCAs são isentas
de imposto de renda, mas têm carência mínima de 90 dias.
Apenas lembre-se de respeitar os limites do Fundo
Garantidor de Créditos (FGC) ao investir nesses papéis. O FGC garante as
aplicações (principal e juros) de até R$ 250 mil por CPF, por instituição
financeira, dentro de um limite global de R$ 1 milhão por CPF em todas as
instituições financeiras.
Resumo: Onde investir em 2020 na renda fixa
Para reserva de emergência: Tesouro Selic
(LFT), via Tesouro Direto em corretora que não cobre taxa de agente de
custódia, ou fundos Tesouro Selic de taxa zero, encontrados nas plataformas BTG
Pactual Digital, Pi Corretora, Rico Corretora e Órama.
Para ganhar com a queda dos juros longos (investidor
moderado ou arrojado): Tesouro IPCA+ (NTN-B) 2050, via Tesouro Direto em
corretora que não cobre taxa de agente de custódia.
Para se proteger contra a inflação e possíveis
altas nos juros: títulos pós-fixados que paguem acima de 100% do CDI e protegidos
pelo FGC, como CDBs, LCIs e LCAs de bancos médios, bem como LCs emitidos por
financeiras. Esses papéis estão disponíveis diretamente nas instituições
financeiras e nas plataformas de investimento on-line.
Para ganhar dinheiro com a retomada da economia
(investidor mais arrojado): fundos de debêntures incentivadas e fundos de
crédito privado high yield de gestores especializados em crédito. Lembrando que
fundos com prazo longo para resgate (D+30, D+60 etc.) protegem melhor o
investidor contra as oscilações de preços deste mercado.
Riscos: retomada da economia pressionar demais
a inflação (daí a proteção), eventos geopolíticos (como o conflito entre EUA e
Irã), choques pontuais de preços (como o que ocorreu com os preços das carnes
recentemente) e eleições americanas (pode ocasionar forte oscilação de ativos
de risco em 2020, para o que a renda fixa seria uma proteção importante).
FONTE:
JULIA WILTGEN
Postagem original no seudinheiro.com,
em 04/01/202012h51
JULIA WILTGEN
Postagem original no seudinheiro.com,
em 04/01/202012h51