Cuidar melhor
do dinheiro é uma das
suas resoluções para o próximo ano?
suas resoluções para o próximo ano?
Entender o
mercado financeiro nem sempre é fácil. E 2019 promete ser um ano um pouco
diferente do que os brasileiros estão acostumados. O ano começa com a taxa
básica de juros, a Selic, em sua mínima histórica, de 6,5%. Combinado à baixa
inflação, isso é muito bom para a economia. No entanto, o cenário é mais
desafiador para investidores que estavam acostumados a obter altos rendimentos
com a renda fixa.
Época
NEGÓCIOS conversou com especialistas para lhe ajudar a decifrar o mundo das
finanças e decidir onde colocar o seu dinheiro nesse ano.
Perspectiva
para a economia
No ambiente
doméstico, o ano começa com um tom mais positivo. A expectativa é de que o
crescimento da economia brasileira se acelere em 2019, após dois anos de
crescimento baixo. “A gente entra no ano com tom mais otimista, com expectativa
de aceleração do crescimento, inflação ancorada, e esperamos que os juros
permaneçam baixos”, afirma Karel Luketic, analista-chefe da XP Investimentos.
Um fator
importante e que irá determinar o quanto esse crescimento vai se concretizar é
a gestão do presidente Jair Bolsonaro. Apesar das indicações de que o governo
eleito vai priorizar a agenda reformista, vista pelo mercado como necessária,
ainda há dúvidas sobre como será o diálogo do presidente com o Congresso.
“Apesar de a proposta agradar ao mercado financeiro, não sabemos qual será a
capacidade de implementação da agenda do governo. Por ser uma nova equipe,
podemos esperar bastante volatilidade”, diz Rodrigo Assumpção, planejador
financeiro certificado pela Planejar.
Na economia
global, também há questões abertas. “O cenário externo tem pendências grandes,
a maior é a tensão comercial entre Estados Unidos e China, e deve haver no
começo do ano alguma solução, para o bem ou para o mal, o que nos ajuda a
determinar um panorama mais claro”, afirma Luketic.
Mais risco
para todos
Apesar da expectativa de crescimento maior, as baixas taxas de juros impõem um
desafio aos investidores que buscam maior rentabilidade para o dinheiro. “O
brasileiro está bastante acostumado investir em renda fixa e receber altos
rendimentos. Essa não vai ser uma realidade para 2019”, afirma Assumpção.
Para aumentar
o retorno, será preciso se expor mais a riscos. “Esses investimentos podem ser
feitos em ações ou fundos multimercado, principalmente para aqueles clientes
mais conservadores”, diz Claudio Sanches, diretor de produtos de investimento e
previdência do Itaú Unibanco.
Calma: isso
não quer dizer tirar todo o dinheiro da renda fixa. Apenas vale a pena buscar
maior diversidade de investimentos. “Se você tem um perfil hiperconservador e
nada investido na bolsa, talvez precise ter um pouco. Se você tem um perfil
mais agressivo e já tem um pouco de bolsa, talvez possa investir um pouco
mais”, diz Luketic.
Mesmo quem
tem perfil mais arrojado não deve apostar todas as suas fichas na bolsa.
Qualquer um deve fazer a chamada reserva de emergência. Esse dinheiro,
suficiente para cobrir todas as suas despesas por seis meses a um ano, serve
para imprevistos como perder o emprego ou problemas de saúde. Essa parcela das
suas economias deve ser colocada em algum investimento seguro de renda fixa e
com liquidez – ou seja, que você possa retirar rapidamente.
A segurança
da renda fixa
Enquanto a
indicação é se expor mais a risco, o desafio para a parcela de investimentos
destinada à segurança da renda fixa – que sempre continua existindo e deve ser
representativa para qualquer investidor – é buscar maior rentabilidade. Mas há
oportunidades para isso.
Dívida
privada
Segundo os especialistas, o esperado crescimento econômico deverá ter um efeito
bastante positivo para os investidores: uma onda de emissão de títulos de
dívida privada. “Se a gente imaginar uma taxa de juros baixa, as empresas
crescendo e investindo, devem surgir mais opções de dívidas sendo emitidas e
até eventualmente empresas trocando dívidas mais caras por dívidas mais
baratas”, diz Sanches, do Itaú Unibanco.
Roberto
Indech, analista-chefe da Rico Investimentos, sugere ficar de olho em emissões
de debêntures, CRIs e CRAs com retorno interessantes. “Outro caso são os CDBs
de bancos médios e pequenos, com prazo tradicionalmente em torno de um ano, que
oferecem em torno de 115% do CDI”, diz.
A dica
de Rodrigo Assumpção é buscar os investimentos isentos de Imposto de
Renda. É o caso das debêntures incentivadas, LCI (Letra de Crédito
Imobiliário) e LCA (Letra de Crédito Agropecuário).
Uma vantagem
tanto dos CDBs quanto de LCIs e LCAs é que esses produtos têm a proteção
do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), o que traz mais segurança para o
investidor.
Liquidez
menor, retorno maior
Uma dica importante para aumentar os rendimentos dos investimentos em renda
fixa é não superestimar quanto cada investidor precisa de liquidez. “A maior
parte das famílias tem um volume aplicado e investe como se precisasse de
disponibilidade imediata para todo, ou boa parte do recurso, mas muitas vezes
isso não é a realidade”, diz Assumpção. Ao fazer uma programação melhor, os
investidores podem alocar parte de seu dinheiro em produtos com prazo de
resgate mais longo – que normalmente pagam mais.
CRI e CRA
Os CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários) e CRAs (Certificados de
Recebíveis Agrícolas) são títulos de renda fixa lastreados em créditos
imobiliários ou agrícolas, e costumam ter prazos a partir de cinco anos. No
entanto, antes de aplicar, o investidor deve ter alguns cuidados. Além da perda
da liquidez, é preciso ponderar o risco do emissor desse papel. “Nesse caso, é
preciso olhar se o emissor é um emissor de qualidade para garantir o pagamento
do recurso ao final do período”, diz Assumpção. Vale lembrar que os CRIs e CRAs
não têm proteção do FGC.
E o Tesouro
Direto?
Continua sendo uma boa opção para quem busca segurança nos investimentos. Em
teoria, os títulos de dívida emitidos pelo governo são os mais seguros de um
país. Vale lembrar que alguns deles – como o Tesouro IPCA+ — têm marcação a
mercado se o investidor decidir resgatar o investimento antes do prazo, o que
pode levar a prejuízos.
Para Claudio
Sanches, os papéis mais atraentes para o próximo ano são os indexados à
inflação – os chamados IPCA+. “A gente acha que é importante parte da carteira
nesse tipo de investimento, mas muito mais para questão de diversificação do
que grande oportunidade de crescimento”, diz.
Ricardo
Rochman, professor e coordenador do mestrado de economia da FGV/EESP, concorda.
Ele alerta que é uma boa opção principalmente para quem está querendo investir
pensando no longo prazo. “Esse título é bom para quem está pensando em um prazo
de 10 a 20 anos, ou para guardar para a aposentadoria, porque sempre te protege
da inflação”, diz o professor.
Fundos
Para quem
busca mais rentabilidade mas não quer se aventurar sozinho no mercado de ações,
aplicar parte do dinheiro em fundos multimercado pode ser uma boa ideia. A
expectativa é esses produtos terem um bom desempenho no próximo ano,
beneficiados também pelo maior crescimento da economia. “Quando a gente tem um
CDI muito baixo, como agora, fica mais fácil para os fundos entregarem um
desempenho acima do CDI. Só por esse motivo, já é um ano mais favorável”, diz
Assumpção, afirmando que os multimercado tendem a ser uma boa classe de
investimento para 2019.
Há alguns
pontos para ficar de olho na hora de escolher em qual fundo aplicar. O primeiro
é o custo – quanto menor a taxa de administração, melhor. Procure opções com
taxa de até 2%. Preste atenção também à cobrança de taxas de performance. A
média do mercado é de uma taxa de performance de 20%. Vale buscar fundos que
fiquem próximos disso.
Mas nem tudo
é preço, alerta Rodrigo Assumpção. “Melhor um fundo que cobra 2,2% [de taxa de
administração] e tem um histórico muito bom, do que um fundo com taxa de 2% e
desempenho não tão bom”, diz. Um cuidado necessário é escolher bons gestores.
“É preciso fazer uma boa seleção, o que significa olhar e buscar fundos com
histórico longo de entrega de resultados positivos”, diz o planejador
financeiro.
Fundos
imobiliários
O melhor momento para os fundos imobiliários é quando a taxa de juros do país é
baixa ou está para baixar e com o mercado imobiliário ativo, com preços de
imóveis com tendência de alta. “O movimento de queda de juros já impactou os
fundos, que viram uma recuperação dos preços das cotas. Mas a volta do mercado
imobiliário ainda não aconteceu, então ainda tem parte disso para aproveitar”,
diz Assumpção. “Uma parte do ganho já passou, mas acho que ainda há uma melhora
por acontecer”.
Esse
movimento de recuperação do mercado imobiliário, contudo, é lento – depende da
queda do desemprego, aumento da renda da população e retomada do mercado de
crédito. Por causa disso, vale investir em 2019, mas pensando em um prazo um
pouco mais longo.
A vantagem
dos fundos imobiliários é que os dividendos são isentos de Imposto de Renda
para pessoas físicas. Além disso, enquanto espera a melhora no mercado
imobiliário, o investidor ainda recebe os dividendos do fundo, o que acontece
normalmente a cada mês.
Ações, para
quem quer se arriscar
Quer entrar
no mercado de ações? Os especialistas defendem que esse é um bom momento para
isso. Mas vale lembrar que o melhor é pensar na bolsa como um investimento de
médio prazo. “Não é um dinheiro de curto prazo para colocar em um mês e tirar
no outro, o ideal é pensar em um prazo de um a dois anos”, diz Sanches, do Itaú
Unibanco.
Alguns dos
setores que devem ter bons resultados no próximo ano são o de infraestrutura,
siderurgia, energia, bancos e varejo.
Petrobras –
“Acho que vamos ver um movimento interessante na empresa, com a mudança de
diretoria e abertura de capital de alguns segmentos”, diz Indech, da Rico. Ele
ressalta que os preços do petróleo no fim de 2018 estão depreciados, e que há
uma expectativa de alta ao longo do próximo ano.
Banco do Brasil –
A sugestão evolve duas questões: primeiro, as estatais estão em um processo de
retomada operacional e gestão de qualidade, segundo Luketic, da XP. Além disso,
a empresa deve se beneficiar com a retomada da economia, com menor
inadimplência.
Usiminas e
Gerdau – O setor de siderurgia aparece como oportunidade dada a
alavancagem operacional Brasil. “Historicamente, a demanda por aço no Brasil
tem alavancagem de duas a três vezes, ou seja, se PIB cresce 2,5%, a demanda
[por aço] deve crescer pelo menos 5%, até 7,5%. Isso é muito positivo para
resultado”, diz Karel Luketic, da XP. “A Usiminas é mais diretamente impactada,
Gerdau tem operação fora do Brasil, tem outras questões a considerar”.
Localiza –
A empresa deve se beneficiar do bom momento da economia, segundo os
especialistas. Além disso, é um papel que tem apresentado bom desempenho nos
últimos meses, e é considerado uma aposta segura no mercado de ações.
B2W – O conglomerado
que engloba Lojas Americanas e Submarino se beneficia de uma retomada da atividade
econômica, com alta do consumo das famílias. A empresa também aproveita a onda
de ecommerce, que cresceu nos últimos anos e tem espaço para avançar ainda
mais.
Suzano –
A empresa deve se beneficiar com bom momento no mercado de celulose. Além disso,
é uma oportunidade de diversificar a carteira, já que, diferente de outras
sugestões, a empresa é exportadora e se “descola” um pouco do desempenho da
economia brasileira. Outra questão que traz otimismo quando à empresa é a fusão
com a Fibria, que deve criar a maior produtora de celulose do mundo. A
conclusão do negócio deve ficar para janeiro.
Vale –
“Achamos que o preço do minério está perto de uma inflexão e deve ganhar força
já no começo do ano”, diz Luketic. A expectativa da XP é de que a empresa “entre
no maior ciclo de vendas da história da companhia nos próximos anos”. Além
disso, a empresa parece comprometida com devolver dinheiro aos acionistas, o
que significa expectativa de bons dividendos no futuro.
FONTE:
DANIELA
FRABASILE
Colaboração
para o epocanegocios.globo.com,
em
02/01/201909h35